O Rio Grande do Sul tem uma montanha de histórias para contar. Entre elas está a vinda dos europeus, que, depois de meses em alto-mar, numa viagem de condições precárias, aportaram em uma terra desconhecida que os recebeu com toda a exuberância de suas fauna e flora. E foi graças a essa gente – que teve a coragem de embarcar em uma aventura carregada de esperança – que a cidade onde nascemos surgiu.

Aqui, no pé da serra, crescemos cercados de descendentes europeus que nunca deixaram de revelar suas origens nos pequenos gestos: na forma de lidar com o jardim, na mesa farta a cada fim de semana, nas famílias com o hábito de subir a serra para respirar outros ares. Em nossas casas também era assim, e nossos olhos infantis viajavam enquanto alcançavam outras altitudes. Viajavam nas flores do caminho. Viajavam no verde da paisagem mágica. Viajavam nos detalhes que se descortinavam a cada curva.

Crescidos continuamos percorrendo os caminhos da Serra Gaúcha, sempre fascinados pelos cenários e pela luz que se transmuta a cada nova estação. Mas, de repente, a fotografia nos levou mundo afora, e nossas lentes capturaram países, culturas e paisagens distantes. Quando voltamos, cruzamos diversas vezes o Brasil, em jornadas repletas de imagens que viraram livros. Até que, em um final de tarde frio, com vento cortante, enquanto admirávamos e grandiosidade do Cânion Fortaleza, em Cambará do Sul, compreendemos que, uma vez mais, poderíamos voltar nossos olhares para a terra em que vivemos. Esta de onde viemos.

Foi assim que nasceu a ideia de fazer este livro... e deixamos nosso trabalho fluir naturalmente, quase como uma viagem pessoal que retratasse o que mais admiramos nas diferentes regiões da Serra Gaúcha. Mergulhamos neste projeto com curiosidade e admiração, em busca de imagens que transmitissem as belezas peculiares dos lugares que tanto amamos desde criança.

Descobrimos um povo serrano repleto de orgulho próprio e costumes marcantes, cercados de flores nativas que se abrem em abundância. Em cenários ora singelos, ora de tirar o fôlego, foi se desenhando uma paisagem natural e humana que, entre um suspiro e outro, desenhou também as páginas do nosso livro: No coração da Serra Gaúcha.